sábado, 21 de setembro de 2013

Viajar



A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memórias, em lembranças, em narrativas. 
Quando o visitante sentou na areia da praia e disse :
"Não há mais o que ver", saiba que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto.
Ver outra vez o que já se viu, ver na primavera o que se viu no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a serra verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar os passos que foram dados, para repetir e para traçar novos ao lado deles. è preciso recomeçar a viagem. Sempre.
                                                                                                   José Saramago


Por que temos pena de pessoas que não podem viajar?
Porque elas, como não podem se expandir exteriormente, também não conseguem se ampliar interiormente, não podem se multiplicar e, assim, não têm a possibilidade de empreender amplas excursões para dentro de si mesmas e descobrir quem ou o que o outro poderiam ter sido
                                                                   Pascal Mercier, Trem noturno para Lisboa.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Da Felicidade

                                                                          Imagem Google

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal qual o avôzinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

                               Mário Quintana

            A Felicidade
                  ...
A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
                 ...
                Vinícius de Morais

sábado, 7 de setembro de 2013

Mudança


                                                          Foto:http://www.mandytblog.blogspot.nl/
Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a
velocidade.

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho, ande por outras ruas,
calmamente, observando com
atenção os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.

Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama...
Depois, procure dormir em outras camas
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais... leia outros livros.

Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.

Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.

A nova vida.
Tente.

Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida,
compre pão em outra padaria.

Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado... outra marca de sabonete,
outro creme dental...
Tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa, de carteira, de malas,
troque de carro, compre novos
óculos, escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.

Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros,
outros teatros, visite novos museus.

Mude.

Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light, mais prazeroso,
mais digno, mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa.


O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.

Só o que está morto não muda !

Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena !!!

                                          Clarice Lispector 


Retalhos De Mim

                                                                                Imagem Google

Ao longo da vida,
juntei retalhos.
tinham tamanhos
e formatos diferentes.
Cores suaves e ardentes.
Eram pequenos retalhos de mim.
Algum tempo
Deixe-os amontoados.
Desprezados
ali em um cantinho da minha alma.
E um dia,
em uma primavera florida,
comecei a juntar cada pedacinho de mim.
Costurei desejos,
Bordei emoções.
Espinhos tirei,
Deles fiz as agulhas,
onde criei
uma linda colcha.
Coloquei em minha cama
e lá descansei meu corpo.
Um corpo,
já maltratado da vida.
Bordei,
todas as minhas
alegrias e decepções.
Agora resolvidos.
deito meu corpo,
menos dolorido,
desfrutando
do aprendizado,
que dos problemas tirei.

                          Dayse Sene
                       http://blog.daysesene.com/