quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Tempestade


_Menino, vem para dentro,
Olha a chuva  lá na serra,
Olha como vem o vento!

_Ah! Como a chuva é bonita
E como o vento é valente!

_Não sejas doido, menino,
Esse vento te carrega,
Essa chuva te derrete!

_ Eu não sou feito de açúcar
Para derreter na chuva.
Eu tenho forças nas pernas
Para lutar contra o vento!

E enquanto o vento soprava
E enquanto a chuva caía,
Que nem um pinto molhado,
Teimoso como ele só:

_ Gosto de chuva com vento
Gosto de vento com chuva!


                     Henriqueta Lisboa
Foto:http://gartic.uol.com.br/yu_2011/desenho-jogo/1297270303

Vamos relembrar e curtir Biquini Cavadão? Vento ventania...


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Telha de vidro


Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
- Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

                                     Rachel de Queiróz
Foto:http://bananacomfarinha.blogspot.nl/2012/06/telha-de-vidro.html

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Cântico VI

                                                                   O Grito, Edvard Munch

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.
              Cecília Meireles

Você pode gostar de ouvir Miedo com Lenine e Julieta Venegas
www.youtube.com/watch?v=a6Y2JBIWr7I